Desejos, Segredos e Cia...

Wednesday, May 31

Apenas o essencial...


As horas correm... o tempo voa... e os dias já não são mais como antigamente...
Parecem não ter a mesma duração... Parecem se confundir perante tanta correria, tantos atropelos, tantas palavras desnecessárias.
E correria para quê? Onde esperamos chegar? Qual será o crescimento no final? Será tudo isso mesmo necessário? Realmente é importante ter o que ainda não se tem?
E o ser? Como cuidar do que existe dentro de nós? Como ouvir nossa alma, nosso coração? Como escutar o que nos faz ser o que somos? Como prestar atenção em nossos sentidos, em nossas palavras, em nossas respostas se não temos tempo para mais nada?
Definitivamente, não prestamos mais atenção em nós... Estamos nos perdendo de nós mesmos... com toda essa agitação... com toda essa cobrança... com toda essa necessidade não sei do quê.
Há de chegar um dia em que voltaremos a escutar os pássaros, nos encantaremos com o amanhecer e com o anoitecer, nos perderemos viajando junto com as brancas nuvens flutuantes... Há de chegar esse dia em que a simplicidade de existir nos emocione e baste. Dia em que optaremos em falar e pensar somente o essencial. Dia também em que teremos aprendido a escutar... mesmo sem ouvir nenhuma palavra, nenhum som... Nesse dia teremos aprendido a escutar com a alma. E seremos sábios e seremos tranqüilos...e seremos também bem mais felizes.
Agora mesmo estou aqui a presenciar o céu azul se tornar lilás... com uma simplicidade muda, mas totalmente impressionante e não menos desconcertante... enquanto escuta os seus próprios sons...
Esses dias de inverno são os que fazem aflorar em mim aquela necessidade de evolução, aquela vontade de ser outra pessoa, aquela sensação de que posso ser tudo o que quiser.
E tudo isso causa um delicioso arrepio na pele... e um friozinho na barriga... me mostrando que ainda estou viva... e tenho muito o que aprender, a ser, a agradecer... e principalmente a modificar.
Esses dias poderiam se eternizar... para que a minha eventual transformação não se perdesse com o tempo e no tempo...
Vou sonhar hoje com o céu encantado que me causou arrepios... e me fez querer parar o tempo. Quem sabe nesse sonho o meu céu azul também se torne lilás?

“Não é bastante ter ouvidos para se ouvir o que é dito. É preciso também que haja silêncio dentro da alma.” (Alberto Caeiro)

Tuesday, May 23

Sabor de amor...


Alguns dias são realmente especias e valiosos...
Às vezes, em certas ocasiões, não esperamos nada de diferente ou nada além do usual mas, eventualmente, somos pegos de surpresa e de forma inesperada nos emocionamos. Assim... por nada demais...
Então descobrimos o quanto pode valer a pena toda aquela viagem, aquela correria, a cama que deixamos para trás, a necessidade de se fazer outras coisas, a ausência no lar, a vontade de ficar...
E o que era para ser mais um... se torna “o”... Aquele “0” redondo e perfeito... que nos apresenta não a perfeição milimétrica... mas a perfeição emocional... de quem sabe que dificilmente verá aquilo se repetir... e por isso se rende, se entrega sem se rebelar ou recusar...
Momentos gelados porém tendo o poder de aquecer nossos corações, nossos olhos, nossas bocas, nossas vidas... E quentes... apenas continuamos ali... observando, sentindo, agradecendo, abençoando...
E em algum momento, percebemos no ar aquela sensação sublime de fidelidade... aos amigos, aos pais, aos parentes, às raízes, à vida... Sem frescuras, sem exageros, sem pedantismos, sem esnobismos... a ostentação passou longe... E por isso mesmo foi perfeito.
Somente aquela calmaria sutil dançando por entre tantos cantos... Luzes entremeadas por plantas - ou será o contrário? - farfalhar de folhas; chamas sibilantes; perfume de amizade no ar a comover os desavisados; sabores inesquecíveis por entre dentes... fazendo estremecer a língua; música reconfortante para os ouvidos... a nos embalar.
Necessidade de partir... mas não sem antes se certificar de que foi real e não apenas um sonho... que marcou nossas percepções e sensações... mais do que se poderia algum dia imaginar.
Guiados ainda pela fragrância que brincava acariciando o ar, saímos dali refeitos, satisfeitos, agradecidos, emocionados e acalentados pela brisa fria...
Aquele dia não seria jamais esquecido... Fora algo incomparável...
Enquanto nos movíamos ainda sentia o sabor adocicado e inigualável na minha boca... AMORA... AFLORA... AROMA... AFORA... NAMORA... AMOR... AGORA...

Thursday, May 18

Com um toque...

Wednesday, May 17

Enxergar além...


É impressionante como o tempo passa rápido. Vários sonhos e vontades são abandonados em função da falta de tempo.
Desistimos de entender nossas dúvidas, de perguntar por elas e até mesmo de ouvir respostas. E descaradamente deixamos que o que nos move fique esquecido em algum lugar até se desintegrar... e sumir para sempre. Quase sempre.
Por que a vida tem que ser tão padronizada? Será mesmo tudo tão óbvio diante da imensidão em que estamos inseridos?
Aprendemos a acreditar que nossas existências são finitas. E por isso esquecemos de lutar por nossa paz e equilíbrio. E então desistimos… desistimos de nós mesmos, dos outros, de tudo.
Passamos a viver num estado latente de completa e proposital ignorância. E com isso nossa alma se apequena, nossos gritos internos se calam, nossos olhos se fecham em uma dormência pungente.
Nos acostumamos a viver no vácuo dos acontecimentos... esperando sermos capturados... agarrados pelo destino. E assim nosso amor também se torna condicional… ao tempo.
Perdemos a esperança de sermos algo novo todos os dias. Nos tornamos frios. Insensíveis, relapsos. Sem capacidade nenhuma de demonstrar amor.
E o nosso amor para se defender, parece se endurecer querendo ser outra coisa. Não se contenta mais em ser o que é… Não quer ser mais calmaria. Quer ser bravo, quer ser descomedido, quer lutar pelo que não tem certeza, quer mudar, andar por caminhos desconhecidos até se esgotar. Até passar a sentir medo… E até se descobrir ódio. Ódio que não sabe porque é e porque existe assim.
Perdemos a capacidade de crer no que é invisível aos olhos. Perdemos a capacidade de sentirmos nossos próprios sentidos. E então nem toda compreensão é suficiente para digerir os pedaços até a completa dissolução em significados.
E aí o que é inevitável acontece. Já não mais nos encontramos. Já não mais nos vemos. Já não nos reconhecemos. Perdemos nossas referências, nossos rumos, nossas motivações e entusiasmo. E todo dia é qualquer dia. Todo lugar é qualquer lugar. Toda hora é qualquer hora. Toda pessoa é qualquer pessoa. E com toda essa pressa… toda essa turbulência nem lembramos que tudo aquilo antes era o ideal. Tudo aquilo antes tinha importância.
Nesse momento nossos olhos se descobrem cegos, sem capacidade nenhuma de perceber as cores vibrantes daqueles sonhos, paixões e alegrias que antes coloriam nossas manhãs, nos fazendo recomeçar entusiasmados…
Afinal eram eles os que tinham o poder de nos fazer desistir dos nossos medos, ódios e pesadelos… porque enxergávamos com os olhos da alma. E está... fugiu… foi se esconder, com medo dos próprios tons sombrios que adquiriu.
Temos que aprender a fazer o tempo se tornar infinito mesmo ele insistindo em definir limites. Temos que conseguir transformar a fantasia em sonho, mais ainda, quando ela quiser continuar sendo pesadelo.

Sunday, May 14

Rainha-mãe...


E ela acordou feliz... animada com o dia especial. Se levantou. Se perfumou. Vestiu sua melhor roupa. Foi presenteada com um café da manhã caprichado.
Lá estava ela. Docemente linda. Charmosa ao extremo. Graciosa em seus movimentos. Brilho intenso nos olhos. Sorriso largo... encantador. Perfume estonteante... de mãe.
Recebeu o presente emocionada. E agradeceu com um beijo daqueles que fazem perder o ritmo da respiração. Suave como um beijo de mãe deve ser.
Seu dia não foi tão diferente de tantos outros. Mas exalava no ar aquela esperança renovada de mais um ano de muito amor e carinho. E por isso agradeceu comovida, em silêncio.
Talvez não fosse tudo perfeito. Talvez muita coisa pudesse ser melhor. Mas sabia que o carinho existia e o amor emanava inexplicavelmente.
Carinho e amor sem fim. Sem cobranças. Sem julgamentos. Sem barganha. Sem orgulho. Mas incrivelmente emocionante. E extremamente necessário.
Ela era mãe... simplesmente.

Ser mãe...
"Uma mulher chamada Ana foi renovar sua carteira de motorista. Pediram-lhe para informar qual era sua profissão. Ela hesitou, sem saber como se classificar.
"O que eu pergunto é se tem algum trabalho", insistiu o funcionário.
"Claro que tenho um trabalho" exclamou Ana. "Sou mãe!"
"Nós não consideramos mãe um trabalho. Vou colocar dona de casa", disse o funcionário friamente.
Não voltei a lembrar-me desta história até o dia em que me encontrei em situação idêntica. A pessoa que me atendeu era obviamente uma funcionária de carreira, segura, eficiente, dona de um título sonante.
"Qual é a sua ocupação?" perguntou. Não sei o que me fez dizer isto. As palavras simplesmente saltaram-me da boca para fora: "Sou Doutora em Desenvolvimento Infantil e em Relações Humanas."
A funcionária fez uma pausa, a caneta de tinta permanente a apontar pra o ar, e olhou-me como quem diz que não ouviu bem. Eu repeti pausadamente, enfatizando as palavras mais significativas. Então reparei, maravilhada, como ela ia escrevendo, com tinta preta, no questionário oficial.
"Posso perguntar" disse-me ela com novo interesse " o que faz exatamente?"
Calmamente, sem qualquer traço de agitação na voz, ouvi-me responder: "Desenvolvo um programa de longo prazo (qualquer mãe faz isso), em laboratório e no campo experimental (normalmente eu teria dito dentro e fora de casa). Sou responsável por uma equipe (minha família), e já recebi quatro projetos (todas meninas). Trabalho em regime de dedicação exclusiva (alguma mulher discorda?). O grau de exigência é a nível de 14 horas por dia (para não dizer 24)"
Houve um crescente tom de respeito na voz da funcionária, que acabou de preencher o formulário, se levantou, e pessoalmente abriu-me a porta.
Quando cheguei em casa, com o título da minha carreira erguido, fui recebida pela minha equipe: uma com 13 anos, outra com 7 e outra com 3. Do andar de cima, pude ouvir meu novo experimento - um bebê de seis meses - testando uma nova tonalidade de voz.
Senti-me triunfante!
Maternidade... que carreira gloriosa! Assim, as avós deviam ser chamadas Doutora-Sênior em Desenvolvimento Infantil e em Relações Humanas, as bisavós Doutora-Executiva-Sênior em Desenvolvimento Infantil e em Relações Humanas e as tias Doutora-Assistente.
Uma homenagem carinhosa a todas as mulheres, mães, esposas, amigas, companheiras, Doutoras na Arte de Fazer a Vida Melhor!" (A.D.)

Como fazer durar um amor ...
"Uma mãe e a sua filha estavam a caminhar pela praia.
Num certo ponto, a menina disse: "Como se faz para manter um amor?"
A mãe olhou para a filha e respondeu:
"Pega num pouco de areia e fecha a mão com força..."
A menina assim fez e reparou que quanto mais forte apertava a areia
com a mão com mais velocidade a areia se escapava.
"Mamãe, mas assim a areia cai!!!"
"Eu sei, agora abre completamente a mão ..."
A menina assim fez mas veio um vento forte e levou consigo
a areia que restava na sua mão.
"Assim também não consigo mantê-la na minha mão!"
A mãe, sempre a sorrir disse-lhe:
"Agora pega outra vez num pouco de areia e a mantenha na mão semi aberta
como se fosse uma colher ... bastante fechada para protegê-la
e bastante aberta para lhe dar liberdade".
A menina experimenta e vê que a areia não se escapa da mão
e está protegida do vento.
"É assim que se faz durar um amor..." (A.D.)

Aos 30, descobrimos que nossa mãe é a pessoa em quem mais podemos confiar e morremos de culpa de ter brigado tanto com ela.

Friday, May 12

Para me tornar...agora...


Talvez eu nem quisesse esta vida assim tão normal. Ou ser uma pessoa normal. Eu sempre preferi mais os meus defeitos que, muitas vezes, acabaram tornando-se meus efeitos.
Sempre quis muito... tudo... de mim mesma e também de todos os outros. Eu sei... eu sei... que tenho que viver um dia de cada vez. Eu tento mas não é nada fácil... tudo parece se atropelar... A ansiedade acaba dominando todos os meus espaços, vontades, porquês. Me fazendo muitas vezes esquecer dos meus reais propósitos e também da minha própria respiração. Eu quero ter o hoje mas preciso do amanhã e venero o meu ontem, que sei não volta nunca mais. E é isso que me dá mais medo... o não saber como será a próxima hora, o próximo dia, o próximo mês... o próximo ano. Às vezes finjo saber que sei como tudo vai estar somente para me sentir mais aliviada e poder continuar seguindo em meus dias de forma mais tranqüila... desgarrada de tantas incertezas.
Acho que não sei viver o futuro. Acredito somente no meu presente e acho também que por isso me apegue mais do que devia ao meu hoje. Ao meu agora. Planos para mim parecem estar tão distantes. Não me sinto segura diante deles. Sinto estar mentindo por não ter certeza do que será. Me sinto fraca, angustiada e até enganada. Queria tanto ter certezas, mas cada vez que tento me aproximar... elas se distanciam um pouco mais.
Assim, agora, não mais quero saber que caminhos seguirei... quais pessoas encontrarei por esta estrada, como me sentirei... Só quero saber do que quero agora... neste momento. É só isto que quero. Aprender a viver de improvisos sem me preocupar com como será o fim. Podem achar que isto seja falta de juízo... Mas não acredito.
Eu me conheço e sei que o que realmente preciso é sentir. Me sentir perante os outros... me sentir diante de tantas situações. E depois... só depois agir. E isso não irá me impedir nem um pouco, eu já imagino, de continuar batendo minha cabeça... de continuar errando... Não sei e... não quero fazer de outra forma. Por isso estou sempre me machucando ao arriscar... e ainda dolorida, fico pelos cantos, costurando meus retalhos que sangram... até me reconstruir por completo para novamente me sentir inteira. Mas sei que nunca mais serei a mesma pessoa.
Não tem como acontecer de outro jeito. É assim e pronto. Apesar de não querer me sentir partida ao meio não vou mais me desesperar, nem arrancar meu coração, despedaçar minha esperança ou desacreditar dos meus sonhos. E sei que no final terei o que mereço mesmo eu não concordando totalmente com os parâmetros adotados para definir isto.
Pronto! Acho que agora eu aprendi. Não vou mais me preocupar... Tentarei estar mais leve... banhada por uma fluidez poderosa e extraordinária... que me ajudará a engolir os meus nós... a digerir minhas decepções e fortalecer a minha coragem. Mais do que nunca preciso agora de olhar para dentro.. de mim... e mesmo com tantas dúvidas, incertezas, medos, inseguranças e falta de rumo me reconstruir, saber quem eu sou, me aceitar por completo e ter orgulho do que me tornei.

Thursday, May 11

Indecente...


Ela queria... mas depois fugia!
Ela desejava... mas sempre reprimia!
Ela sonhava... mas se sentia culpada!
Ela dizia quase tudo... e depois desaparecia!
Mas, ela sempre voltava...

- Tire a calcinha pra mim!
Ele falava com ela assim.
E ela fingia... que não ouvia,
Queria ver se ele repetia.
A voz dele era meio rouca
E, ele a deixava quase louca,
Sussurrando em seu ouvido,
Palavras sempre de duplo-sentido.
Ela se fazia de inocente,
Só para deixá-lo impaciente
Enquanto o chamava de indecente
Deixando-o mais saliente.
Ela precisava ter gravado,
Aquele diálogo safado,
Para muitas vezes poder ouví-lo
Agoniado dizendo assim:
- Tire a calcinha pra mim!
(P.C.)

Só para você saber...


Sinto sim... e assim...
Saudades ao lembrar de você a me olhar, me querendo...
A sensação das suas mãos a passear pelo meu corpo...
Sua língua a preencher minha boca...
Sua barba por fazer a roçar meu rosto...
Suas mãos enérgicas a sentir meu corpo, massageando devagar...
Meu corpo relaxado em suas mãos, excitado por seus toques...
O ar quente que sai da sua boca, deixando-me cada vez mais enlouquecida...
Teus beijos quentes e cheios de desejos me fazem desfalecer...
Suas mãos a me apertar, seu corpo a me desejar...
Precisando me possuir e pedindo-me para ser sua...

Teu olhar safado, traduz tudo o que quer falar...
Pouco a pouco você vai me deixando nua...
Acariciando minhas curvas, percorrendo meus caminhos...
Enchendo-me de beijos, pegando-me pelo cabelo...
E eu sem pensar, só te querendo por inteiro...

Então venha aqui...
Beijar-me a nuca...
Sussurrar em meu ouvido...
Amar-me com loucura...
Dominar-me com rapidez...
Não restam dúvidas
Você sabe que já te pertenço, que meu desejo é imenso...
Por isso, esqueço a timidez e entrego-me de vez...
Te agarro com força, te apertando...
E sorrindo... te arranho...
Te marcando com minhas unhas e te levando a loucura...


Te beijo aos poucos te deixando mais zonzo...
Mordo sua orelha, te falo besteiras...
Continuo te beijando percorrendo seu pescoço,
Seu peito, seu umbigo, seu sexo...
Provocando-te malvadamente...
Cheio te tesão você me joga no chão...
Cheio de desejo você me possui...
Loucamente, penetrando-me atroz,
Nasce então, uma deliciosa magia entre nós...
Água em nossas bocas... escorrendo...
É o sabor do prazer que nos invade veloz...
Que delícia sentir-te me consumindo...
Como mágica te sinto correndo em mim,
Invadindo meus caminhos mais secretos...

Ah... que delícia sentir...
O meu e o seu...
Gozo... Corpo... Prazer...
(P.C.)

Wednesday, May 10

Além do que se pode compreender...

Ela estava fora da casa, pensativa mas, ao mesmo tempo, notando as cores daquele fim de dia.
Seu coração estava aos pulos. Quantas vezes sua esperança seria posta a prova? Por quantas provas teria ela que passar?
Ela se sentia por vezes, impotente, atormentada. Se sentia incomodada pelo novo. Contraditoriamente não gostava de monotonia mas precisava da estabilidade. Passava por mutações como a lua em suas novas e diferentes fases. E talvez por isso, estava sempre acompanhada de alguma inquietude da alma. Era estranha a si mesma. Vivia como se estivesse se esvaecendo, se perdendo... para então novamente voltar a se procurar, até se encontrar.
Entre os vários momentos que se iniciavam, e também se findavam, ela se permitia sentir saudade do que já era passado... Aquela nostalgia ao lembrar da alegria ao se conquistar algo, da esperança de poder reconstruir, da necessidade de não se desprender e estar sempre relembrando alguma coisa ou alguém.
Em meio a tudo o que era renovável sentia que outra vez seus propósitos se mostravam restaurados, reafirmados e finalmente retomados. Muitos dos seus sonhos permaneciam em compasso de espera... aguardando o momento oportuno para virem à tona. Eram para ela como oceanos de um pó finíssimo e translúcido, que poderiam se perder entre os abismos do esquecimento de uma memória que, muitas vezes, encontrava-se mergulhada em profundidades celestiais e desconhecidas.
Não queria reprises intermináveis de dias sem fim que jamais começaram mas nunca mais terminaram. Lutava para que suas intenções não fossem enterradas por tempestades de desesperança. Tinha medo que uma implacável avalanche descesse pelas encostas do seu confuso íntimo soterrando estes seus sonhos, bloqueando seus caminhos, desorientando seus rumos com aqueles rastros sombrios, apagando todas as luzes a cada novo amanhecer.
Não podia ser capaz de entender algo aparentemente tão sem sentido. Não podia compreender... E se sentia perdida, entre tantos labirintos que insistiam em surgir diante dela, fazendo-a desconhecer o real curso de sua estrada... Enquanto pisava em atalhos falsos dirigia-se para um lugar que ela começava a desconfiar não existir. Passava a acreditar que poderia estar sendo vítima de uma armadilha, perdendo um tempo irrecuperável. Seria tudo somente uma fantasia?
E mais uma noite caía, lenta... e o frio chegava de mansinho. Mas o reflexo da sua melancolia era percebido claramente enquanto desenhava um desalento que ela podia pressentir mas não tinha certeza de onde vinha.
Ela então entrou em casa deixando lá fora a sombra daquela lenda que a acompanhava. Uma brisa gelada transpassou por entre as janelas lembrando-a que aquela longa viagem, de contar e entender o tempo, estava apenas começando... afinal, ela não era dona nem de si mesma.

"Desculpem, mas devo dizer: eu quero o delírio". (Lya Luft)

Friday, May 5

Por entre seus lacres...


Ela o observava surpresa, tentando decifrá-lo. Acreditava saber que o conhecia... e o que esperar dele. Mas não conseguia ter certeza perante aquelas percepções indefinidas.
Ele também era como ela – um verdadeiro mutante na vida. Perseguia ideais; alimentava alguns pensamentos infames e duvidosos; construía pontes que o levavam para longe dali; derrubava barreiras surreais; transpunha muros que o impediam de continuar sua busca. Busca do que somente seu íntimo poderia traduzir.
Sabia que tudo aquilo era indispensável. E assim sendo não relutava em atravessar, preenchendo de luz, todos aqueles becos imundos para no final se transformar, como num passe de mágica, em fumaça... simplesmente.
Ele não tinha certeza do que buscava mas continuava seguindo em frente – convicto de que saberia reconhecer quando alcançasse. Não recriminava suas idéias. Apenas se permitia viajar pelo mundo em questão de segundos. Levava junto consigo todos aqueles sentimentos, bons e ruins, de quem ainda não se encontrou da forma mais profunda... de quem ainda não sabe o que realmente é.
Esta realidade muito o assustava. Por isso, muitas vezes fugia, se escondia... tentando desviar daquelas rotas arriscadas e amedrontadoras.Tinha aprendido a ouvir seu coração e isso significava bastante perante corriqueiras cegueiras que o confundiam. Seu coração era sua estrela-guia apesar de que, por algumas vezes, tivesse se sentido perdido diante de todo um descompasso que o surpreendia... já que aquela desenfreada aceleração de seu coração produzia nele um entorpecimento repentino que minguava suas forças.
Seus sentidos já se misturavam e em conjunto existiam. E com isso ele adquiriu aquela desconfiança inerente de quem ainda não crê em tudo o que ouve ou vê mas pressente quando algo está errado.
A sua visão tornara-se seu ponto forte. Ele prestava sempre atenção, e escutava respeitoso, aquela voz rouca que ecoava de seus olhos por vezes aflitos. Podia ser em vão, mas tentava com isso conter seus antigos impulsos.
Acreditava ter o poder de transformar o dia em noite porque apreciava e precisava daquele mistério que existia, ao mesmo tempo, todo negro e cintilante. Era este mistério envolvente que finalmente permitia que ocorresse a essencial desconstrução de sua alma. Aquele era o seu momento de maior introspecção através do qual reparos do que se mostrava defeituoso eram realizados e acertos do que lhe cabia de melhor aconteciam.
Após este seu processo restaurador ele amanhecia renovado, regenerado. Percebia em torno de si mesmo aquela aura, aquele invólucro peculiarmente perfumado e novamente lacrado.
Diante de toda aquela necessária e invisível validade ele finalmente constatava que sua vida seria sempre imprevisível e estaria também em permanente mutação. Seus laços tinham sido refeitos e por um tempo se manteriam intactos. Até a próxima vez.
E ela ainda o observava...

“Dane-se tudo... quando você não está aqui.
Dane-se o mundo... quando você sorri.” (B.C.)