Desejos, Segredos e Cia...

Friday, May 5

Por entre seus lacres...


Ela o observava surpresa, tentando decifrá-lo. Acreditava saber que o conhecia... e o que esperar dele. Mas não conseguia ter certeza perante aquelas percepções indefinidas.
Ele também era como ela – um verdadeiro mutante na vida. Perseguia ideais; alimentava alguns pensamentos infames e duvidosos; construía pontes que o levavam para longe dali; derrubava barreiras surreais; transpunha muros que o impediam de continuar sua busca. Busca do que somente seu íntimo poderia traduzir.
Sabia que tudo aquilo era indispensável. E assim sendo não relutava em atravessar, preenchendo de luz, todos aqueles becos imundos para no final se transformar, como num passe de mágica, em fumaça... simplesmente.
Ele não tinha certeza do que buscava mas continuava seguindo em frente – convicto de que saberia reconhecer quando alcançasse. Não recriminava suas idéias. Apenas se permitia viajar pelo mundo em questão de segundos. Levava junto consigo todos aqueles sentimentos, bons e ruins, de quem ainda não se encontrou da forma mais profunda... de quem ainda não sabe o que realmente é.
Esta realidade muito o assustava. Por isso, muitas vezes fugia, se escondia... tentando desviar daquelas rotas arriscadas e amedrontadoras.Tinha aprendido a ouvir seu coração e isso significava bastante perante corriqueiras cegueiras que o confundiam. Seu coração era sua estrela-guia apesar de que, por algumas vezes, tivesse se sentido perdido diante de todo um descompasso que o surpreendia... já que aquela desenfreada aceleração de seu coração produzia nele um entorpecimento repentino que minguava suas forças.
Seus sentidos já se misturavam e em conjunto existiam. E com isso ele adquiriu aquela desconfiança inerente de quem ainda não crê em tudo o que ouve ou vê mas pressente quando algo está errado.
A sua visão tornara-se seu ponto forte. Ele prestava sempre atenção, e escutava respeitoso, aquela voz rouca que ecoava de seus olhos por vezes aflitos. Podia ser em vão, mas tentava com isso conter seus antigos impulsos.
Acreditava ter o poder de transformar o dia em noite porque apreciava e precisava daquele mistério que existia, ao mesmo tempo, todo negro e cintilante. Era este mistério envolvente que finalmente permitia que ocorresse a essencial desconstrução de sua alma. Aquele era o seu momento de maior introspecção através do qual reparos do que se mostrava defeituoso eram realizados e acertos do que lhe cabia de melhor aconteciam.
Após este seu processo restaurador ele amanhecia renovado, regenerado. Percebia em torno de si mesmo aquela aura, aquele invólucro peculiarmente perfumado e novamente lacrado.
Diante de toda aquela necessária e invisível validade ele finalmente constatava que sua vida seria sempre imprevisível e estaria também em permanente mutação. Seus laços tinham sido refeitos e por um tempo se manteriam intactos. Até a próxima vez.
E ela ainda o observava...

“Dane-se tudo... quando você não está aqui.
Dane-se o mundo... quando você sorri.” (B.C.)

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