Desejos, Segredos e Cia...

Wednesday, April 5

Saborosa iguaria...


Ela estava sentada ali, completamente desligada, inserida em um ambiente que não mais lhe pertencia naquele momento. Aquele turbilhão de pensamentos a dominava sem nem ao menos pedir licença, e parecendo não aceitar nenhuma recusa. Invasão sem trégua. Enquanto aguardava ser servida, lembrava, sentia, pensava... refazendo perguntas, e respostas, naquela sua mente inerte, no vácuo da sua respiração, por um tempo que não soube calcular. Queria estar em outro lugar. Precisava sair dali...
E então aquele casal que andava um em direção ao outro, sem nem perceberem, chamou-lhe a atenção... e não sabia o porquê. Aquele instante insosso foi estimulado pela visão dos dois e ela passou a criar um cenário que fulgurasse aquela ocasião... Abusou de cores, perfumes, sabores para reinventar aquele tempo presente temperado com uma sutil, mas poderosa, pitada de nostalgia...

Os dois andavam sozinhos... desacompanhados... Ela o viu e parou de súbito observando seus passos... e então ele a viu. Ficou desconcertado mas fez um movimento de cabeça como que dizendo "sim"... cumprimentando-a... e continuou indo em sua direção... com um sorriso malicioso estampado no rosto... que não conseguia disfarçar. Ficaram então de frente para o outro no meio de um alvoroçado corredor... mas ninguém parecia perceber aquela inquietude quase iminente.
Ele se aproximou para beijar-lhe o rosto... e ela pode sentir o calor da sua pele. Quente! Muito quente! O cheiro dele penetrou todos os seus pudores.. enquanto ele colocava uma das mãos em sua cintura... para então abraçá-la...Um abraço forte... envolvente... que fizeram todas as suas sensações entrarem em colapso... e provavelmente as dele também... Com certa hesitação se separaram... Ele fez perguntas, ouviu algumas respostas e quis saber onde ela estava indo. Ela iria almoçar e por isso estava indo esperar o elevador...
Neste momento, ele falou que também não tinha almoçado e perguntou se poderia fazer-lhe companhia... Convite irrecusável. Foram então esperar o tal do "elevador"... Providencialmente não era panorâmico e muito menos tinha ascensorista... Entraram. Estavam sozinhos... Ela se encostou em uma lateral... e ele em outra... distantes por aquele espaço oco e metálico mas não a ponto de impedir de sentirem o calor que os unia... como se fosse um imã...
Ela que vestia um vestido longo... amplo... de alcinhas... ficou ruborizada pelo calor inescrupuloso que a invadia cada vez mais... diante daquela presença muda... mas sorridente... e, também, pelos seus pensamentos infames... Será que ele estaria lendo sua mente?
Como que a respondendo... ele se aproximou um pouco ... e perguntou se ela tinha certeza que queria mesmo comer... enquanto a tocava levemente no rosto... Aquela sensação a desnorteou como se tivesse recebido uma descarga elétrica... potente. Retomou o ritmo da sua respiração e aproveitando a brecha da aproximação e do toque dele... ela pôde encostar seu corpo no dele e lhe falar no ouvido... que continuava com fome... mas agora fome ... dele.

O elevador parou... saíram de mãos dadas... sem dizer uma palavra... atravessaram uma porta de vidro que se entreabriu e que os separava do estacionamento daquele shopping. Continuaram andando rápido... tácitos, em uma direção certa para ele e completamente desconhecida para ela... Tinham se deixado seduzir por aquele mundo subjetivo... de fantasias... dos sentidos.... E aquela viagem estava apenas começando...

Peles quentes, molhadas... mãos insistentes... sons sussurrados...
palavras sem sentido... bocas gulosas... Confusão de sensações.
Corpos vibrantes e incansáveis, sugados e finalmente, esvaziados...

Delírios daquele instante interminável da sua imaginação. E o tempo passou tão rápido... Voou.
Descansou seus talheres sobre o prato. Sua sobremesa chegara ao fim.
Se deixou exultar pelo sabor adocicado e exuberante daquela extraordinária comida... água na boca...

Dos deuses para os deuses...

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