Desejos, Segredos e Cia...

Friday, March 31

O silêncio é de ouro...


“O silêncio é de ouro” já escutamos várias vezes. Mas é provável que estejamos ficando surdos para nossas próprias lembranças. Ou vivências. Ou necessidades.
Você ainda se lembra do som do silêncio? Onde será que se esconde aquele silêncio necessário que nos fará ouvir também a nós mesmos? Pelo menos um pouco...
As ruas gritam o tempo todo. E parece que nos acostumamos a toda esta gritaria. Sons irritantes que invariavelmente passam a fazer parte dos nossos sons internos nos tornando insensíveis aos que continuam de fora. Todos os dias... sempre a mesma coisa...
Gente falando, gente gritando, gente berrando, gente xingando...
Crianças enlouquecidas, chorando ou apostando gritos mais altos com os próprios pais e com quem mais aparecer para enfrentá-las...
Carros buzinando, correndo, freando, voando com toda a potência dos seus “NOx”...
Caminhões e suas rodas tremulantes. Cachorros latindo. Papagaios repetitivos.
Construções que se iniciam com suas intermináveis marteladas. Carros de som.
E mais uma vez, mães berrando.

Sons do dia-a-dia. Sons da vida.

Mas bem que poderiam dar um descanso de vez em quando. Bem que o silêncio poderia tomar conta do lugar por um tempo. O botãozinho do volume da consideração, pelo silêncio do outro, deveria ser usado com mais freqüência, em tons mais elevados. Em nome do respeito ao silêncio das cicatrizes alheias que só o tempo apaga, mas que se agravam com o barulho incessante.
Sinto falta de reconhecer minha própria voz em silêncio. Às vezes, entre tantos sons e barulhos, preciso pronunciar algumas palavras minhas e com a minha voz para lembrar que eu estou ali. Que aquele lugar me pertence.
Eu também gosto dos sons. Afinal não sou surda e além disso, acho bom ouvir o burburinho dos dias acontecendo. Mas gostaria que existissem mais momentos de silêncio. E talvez por isso eu me sinta mais aliviada à noite, na madrugada. Quando posso ouvir soar o silêncio que ecoa do próprio silêncio. Silêncio do silêncio que há em mim. Somente aí posso decifrar no silêncio os sons que meu coração envia e que ressoam nos meus pensamentos.

Silêncios consumidos. Silêncio ensurdecedor. Silêncio acomodado.
Silêncio que respeita. Silêncio esquecido.

Eu definitivamente preciso do silêncio.
Com ele tento alcançar minha serenidade interior. É nele que me torno invencível e inatingível. É através dele que passo pelas minhas fases de manutenção da harmonia interna. Somente com ele minhas desequilibradas palavras se tornam um luxo do meu próprio silêncio.
E por isso, quando os sons me incomodam tanto, me deixando estressada e louca da vida sabe o que eu faço? Coloco uma música que gosto de ouvir, num volume bem alto, e a partir dali posso então ouvir e gostar dos meus sons, ao mesmo tempo em que desvendo as cores que se misturam perdidas por dentro deste meu próprio silêncio.

Silêncio colorido da minha alma.

"Silêncio é o espaço onde as palavras nascem e começam a se mover. Por vezes as palavras existem porque as dizemos. Dependem de nossa vontade: pássaros engaiolados. Mas no silêncio ocorre uma metamorfose. As palavras se tornam selvagens, livres. Elas tomam a iniciativa. Só nos resta ver e ouvir." (Rubem Alves)

2 Sussurros:

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