Desejos, Segredos e Cia...

Tuesday, April 11

A um passo...


Ela tinha todo o tempo pela frente mas negava-se a esperar por ele. Queria viver a toda velocidade. Ansiava em caminhar pela vida a passos largos. Queria atingir tudo o que tinha direito, no menor tempo possível. E não queria passar despercebida pelo que realmente valorizava.
Sempre acreditou que tinha nas mãos o poder de decidir os critérios do seu próprio merecimento. E desejava merecer mais que muitos. Não gostava de ser comparada à eles. Precisava que o diferencial fosse significativo e também notado e para isso se impunha determinada. Não abria mão do que acreditava, não cedia aos seus momentos de fragilidade... enfim, enfrentava todos seus receios... todos os seus fantasmas. E aqueles fantasmas já estavam perdendo suas vozes...
Ela sabia que podia ser diferente e por isso mesmo aprendeu a lidar com todos aqueles olhares tortos e infelizes. Eles já não mais a afetavam, influenciavam e muito menos interferiam no caminho já traçado para ser seguido... por ela mesma. Na maioria das vezes, guiava-se por rumo, por instinto e isso ela nunca soube explicar... ninguém jamais conseguiu entender... levando à um número sem fim de julgamentos impiedosos. Todo o seu poder encontrava-se intrínseco à sua presença; não podia mais se desvencilhar ou fugir... mesmo que desejasse. Ela era o que era e pronto.
Apesar da força negativa que sempre vinha em direção oposta, batendo de frente com ela, querendo minguar sua determinação, aprendeu a se admirar ainda mais diante dos corriqueiros reflexos oscilantes, que insistiam em confundí-la e em fazê-la desistir. Mas cada vez mais o peso daquilo tornava-se menor. As coisas pequenas passaram a ter um valor indefinível... e alegrava-se cada vez mais ao sentir o aroma de toda aquela sua auto-confiança, que se fortificara e tornara-se quase inabalável.
Já tinha se decidido e nada iria demovê-la daquele caminho. Esse era seu lema. E ela faria tudo para conseguir cumprí-lo. Apesar de muitas vezes, se sentir revoltada perante desacertados olhares de desaprovação, ou de comentários maldosos sussurrados na surdina, ela ainda era ela mesma. E não acalentava nenhuma idéia de renunciar às suas convicções.
Para não se perder e reforçar sua segurança eventualmente, olhava-se no espelho, que guardava e protegia todos seus segredos, e sorria ao se ver. Se orgulhava de todos os seus defeitos, ria de suas imperfeições, piscava para suas hesitações, debochava do que podia ofuscar seu brilho.
Apesar de tudo e de todos sabia que era vitoriosa pois tinha aprendido que valia mais do que tudo que pudesse fazê-la se sentir indigna ou desvalorizada. E sorriu mais uma vez diante da sua própria figura. Teve uma espécie de déjà vu de que realmente iria alcançar o que tinha vislumbrado. Uma alegria saborosa, e também poderosa, a atingiu em cheio.
E além de toda aquela velocidade com que queria viver tudo, da intensidade muitas vezes desconcertante que a tocava e a impelia a continuar buscando, decidiu perfazer o caminho de forma mais pausada, sem ultrapassar nenhum limite... porque não queria correr riscos... não queria cometer erros.
Sucumbiu àquela necessária urgência, por ela mesma... por sua sanidade...
Afinal, faltava pouco e ela encontrava-se a um passo da sua maior felicidade...

O que podemos ver é somente a metade do que realmente existe.

0 Sussurros:

Post a Comment

<< Home