Desejos, Segredos e Cia...

Wednesday, May 10

Além do que se pode compreender...

Ela estava fora da casa, pensativa mas, ao mesmo tempo, notando as cores daquele fim de dia.
Seu coração estava aos pulos. Quantas vezes sua esperança seria posta a prova? Por quantas provas teria ela que passar?
Ela se sentia por vezes, impotente, atormentada. Se sentia incomodada pelo novo. Contraditoriamente não gostava de monotonia mas precisava da estabilidade. Passava por mutações como a lua em suas novas e diferentes fases. E talvez por isso, estava sempre acompanhada de alguma inquietude da alma. Era estranha a si mesma. Vivia como se estivesse se esvaecendo, se perdendo... para então novamente voltar a se procurar, até se encontrar.
Entre os vários momentos que se iniciavam, e também se findavam, ela se permitia sentir saudade do que já era passado... Aquela nostalgia ao lembrar da alegria ao se conquistar algo, da esperança de poder reconstruir, da necessidade de não se desprender e estar sempre relembrando alguma coisa ou alguém.
Em meio a tudo o que era renovável sentia que outra vez seus propósitos se mostravam restaurados, reafirmados e finalmente retomados. Muitos dos seus sonhos permaneciam em compasso de espera... aguardando o momento oportuno para virem à tona. Eram para ela como oceanos de um pó finíssimo e translúcido, que poderiam se perder entre os abismos do esquecimento de uma memória que, muitas vezes, encontrava-se mergulhada em profundidades celestiais e desconhecidas.
Não queria reprises intermináveis de dias sem fim que jamais começaram mas nunca mais terminaram. Lutava para que suas intenções não fossem enterradas por tempestades de desesperança. Tinha medo que uma implacável avalanche descesse pelas encostas do seu confuso íntimo soterrando estes seus sonhos, bloqueando seus caminhos, desorientando seus rumos com aqueles rastros sombrios, apagando todas as luzes a cada novo amanhecer.
Não podia ser capaz de entender algo aparentemente tão sem sentido. Não podia compreender... E se sentia perdida, entre tantos labirintos que insistiam em surgir diante dela, fazendo-a desconhecer o real curso de sua estrada... Enquanto pisava em atalhos falsos dirigia-se para um lugar que ela começava a desconfiar não existir. Passava a acreditar que poderia estar sendo vítima de uma armadilha, perdendo um tempo irrecuperável. Seria tudo somente uma fantasia?
E mais uma noite caía, lenta... e o frio chegava de mansinho. Mas o reflexo da sua melancolia era percebido claramente enquanto desenhava um desalento que ela podia pressentir mas não tinha certeza de onde vinha.
Ela então entrou em casa deixando lá fora a sombra daquela lenda que a acompanhava. Uma brisa gelada transpassou por entre as janelas lembrando-a que aquela longa viagem, de contar e entender o tempo, estava apenas começando... afinal, ela não era dona nem de si mesma.

"Desculpem, mas devo dizer: eu quero o delírio". (Lya Luft)

1 Sussurros:

  • At Wednesday, May 10, 2006, Blogger Luciano Marra said…

    Comecei a fazer um comentário poético, mas aí a janelinha do comentário abriu bem ao lado da busanfa nua de um marmanjo... Pô,assim não dá! rs.

     

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